É possível escrever sob o regime de um governo eugenista?

A cada dia |eu| mais morto em um país que é campo de experimentos em necropolítica. Há mais de quinhentos anos. Desde o extermínio das populações nativas, por colonizadores europeus até os dias de hoje, em que a população pobre é o rato de laboratório de uma lumpemburguesia que finge não saber, mas é, também, a bucha de canhão de um imperialismo McDisneyMoneyPornWood.
“Uma hora todos vão morrer, taoquei”, vomita o messias-marionete-consolo de Trump e seu imperialismo agonizante.
Milhares de milhares de mortes por dia: covid-19 em destaque, mas segue de mãos dadas com feminicídio, fome, poluição, desmatamento, extrema pobreza…
É possível escrever assim?
É possível escrever sob o regime de um governo eugenista?
Não.
Você não escreve. Você confessa, você sangra na folha impressa ou na página virtual. É impossível escrever por escrever. É o contrário de escrever! A conjuntura da nossa marginalidade com a empatia condenada em uma mancha do espectro artístico, faz com que as mãos e os dedos tremam, mas não de frio, e, sim, tremam por uma catarse nauseante que faz com que o coração se confunda com o estômago e o cérebro reclame poder sobre as vísceras.
Quem apenas escreve, consente.
Quem rasga a pele da contrarrevolução imperialista em busca daquela engrenagem capaz de desestabilizar todo pensamento cartesiano, toda irracionalidade neoliberal, toda intenção de patriarcado… Quem ergue a sua caneta ou o seu teclado para aniquilar toda dissociação cognitiva. Quem assim o faz, ciente de que cada dia a mais também é um dia a menos, sabe que não escreve.
Exercita a contravenção: estar vivo.