Quem escreve, porque reage, aprisiona. Quem escreve, porque age, liberta.

Leonardo Triandopolis Vieira
2 min readJan 2, 2021

Quando os budistas dizem que é melhor não fazer nada do que fazer a coisa errada, eles não estão dizendo para nunca fazer nada ou viver em permanente resignação, eles querem dizer que antes de qualquer ação é preciso pensar (do latim pensare, pesar ou pendurar para avaliar o peso de um objeto — mensurar, balancear). A ação que acontece sem pensamento é reação (do latim reagere, agir em resposta a um estímulo). Assim, podemos concluir que eles querem dizer que é melhor não fazer nada do que reagir.

A ação nunca é uma resposta. Agir (do latim agere, atuar, fazer, colocar em movimento) é uma coisa que se dá quando há atenção. Enquanto você estiver atento ao que acontece dentro e fora, micro e macro, você age. Enquanto você ignora o que acontece dentro e fora, micro e macro, você reage.

A palavra que costuro a outra palavra e a outra palavra para construir uma narrativa não pode ser, jamais, uma reação. Da monossílaba à polissílaba, a ação deve ser integral. Justamente porque com o meu texto eu procuro a transformação, micro e macro, de uma sociedade colonizada, induzida, presa à reação.

Com a palavra que se amalgama no texto e resulta em uma narrativa, não tenciono provocar reações, mas, sim, rachar essa camada de status quo que impede as pessoas de agirem. Agirem a partir de si, em liberdade. Se a liberdade é um estado da mente, então, é através de dispositivos mentais que poderei traduzir esse estado. E, sem embargo, assim como Bakunin, admitir que não há uma autoridade infalível. Reagir a uma ideia de infalibilidade é fatal para a liberdade, pois transforma a todos nós em escravos e instrumentos da vontade de interesses alheios.

Sem liberdade, apenas reagimos.

Fazemos a coisa errada.

Seja na internet ou no mundo material reagir é a regra, porque para tal não é preciso de esforço. Pelo menos, não de esforço consciente. Quando você atira uma bola na parede, a parede devolve a bola não como um ato consciente, mas como uma reação. Quem atira a bola é a ação, pois decidiu atirar (bem como poderia ter escolhido não o fazer) a bola. A parede não.

Enquanto eu escrevo, na qualidade de meta artista, ou quase coisa, devo cuidar para não estar preso à reação, mas, sim, agir para a liberdade do indivíduo. Ter a consciência de que escrevo em uma língua viva, em constante transformação. A língua e a sociedade transformam-se juntas.

A narrativa que age, liberta.

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