Redes sociais e aplicativos de mensagens: a maior arma neoliberal

Leonardo Triandopolis Vieira
3 min readJan 15, 2021

Não escrevi ameaça no título, em razão das redes sociais (Instagram, Facebook, Twitter…) e os aplicativos de mensagens (Whatsapp, Telegram…) já terem ultrapassado a linha, que determina se são ameaça ou não, há muito tempo. Não, estes aplicativos não são uma ameaça. São uma arma. Uma arma que já está sendo usada sem o menor escrúpulo pelo neoliberalismo.

E não estou me referindo à doutrina programada por economistas na primeira metade do século XX, que imaginava um Estado regulador e assistencialista que controlaria, de maneira limitada, o funcionamento do mercado capitalista. Estou falando da ideologia doutrinária do final do século XX, que interfere e contamina todo o mundo capitalista com a falácia da absoluta liberdade de mercado sobre um Estado, caso a existência desse ainda seja tolerada, mínimo.

Esse ultra uber neoliberalismo ganhou força com a internet, principalmente, ou unicamente, através das redes sociais e dos aplicativos de mensagens (uma versão lícita da deep web). Uma arma perfeita, pois faz com que toda polaridade política se anule em prol do mercado neoliberal. Ou, melhor dizendo, em prol de um imperialismo reconfigurado, mutado, global e sem fronteiras (limitado, talvez, apenas pelo sinal de wi-fi ou rede 3/5G). Imperialismo este dono dos aplicativos que, como já vimos, são capazes de, com mais destreza e precisão que uma força militar interventora, influenciar e corromper sistemas democráticos e configurações políticas e sociais mundo afora (ex: Brasil e EUA).

Quando digo que anula a polaridade política tradicional (esquerda e direita), refiro-me ao comportamento dos agentes de ambos os espectros políticos que, quando filtrados pelas redes sociais, são apenas agentes neoliberais. Dentro das redes sociais e dos aplicativos de mensagens, existem apenas clientes insatisfeitos e individualistas inquietos e superficiais. É impossível obter profundidade nesse ambiente que é arquitetado para o meme, o cancelamento, a fake news etc.

Quantos “progressistas de esquerda”, críticos ferrenhos de um Estado e justiça punitivista, não vociferam e proliferam cancelamentos e boicotes a agentes do próprio espectro político? Talvez isso já existisse antes do advento das redes sociais, mas o que vemos agora é em uma escala infinitamente maior. Isso só para citar um exemplo, com os agentes da direita não é nem preciso dizer: todos sentem-se em casa e, sem assombro, foram os que primeiro se adaptaram e se refastelaram com essa ultra arma (vide eleição brasileira de 2018).

A arma perfeita consegue se passar por tudo menos por arma. Funciona como uma droga, vicia e faz com que o usuário produza desculpas para continuar utilizando.

As redes sociais e os aplicativos de mensagem ajudam muita gente? Mas quantas outras prejudicam? Se analisar minuciosamente, é possível ver que no fim há apenas uma forma real de se beneficiar das redes sociais e aplicativos de mensagens: sendo dono delas. E quantos são donos?

Quanto maior a luz, mais longe se projeta a sombra.

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