A impossibilidade da liberdade, excetuando-se, talvez, enquanto estado da mente

Leonardo Triandopolis Vieira
3 min readJan 11, 2021

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João 8:32)

Será?

De uma ponta à outra dos espectros políticos e sociais, tem-se em pauta a liberdade. Liberdade enquanto instrumento de cooptação e jamais como qualificador para a possibilidade de uma vida integral. Digo, para que se possa, não obstante, tendo em conta possibilidades mínimas, ir ao alcance de um horizontalismo onde todas as possibilidades sociais, políticas, filosóficas, artísticas e educacionais possam viver imunes ao verticalismo de um (neo) liberalismo (seja ele social ou econômico) ou socialismo burocrático (seja ele progressista ou dogmático). Não listo conservadorismo e outras atrocidades irmanadas a este, pois são chagas compulsoriamente opostas a qualquer entendimento que timbre a raiz, mesmo etimológica, da palavra liberdade.

Liberdade, do latim liber, mesma essência da palavra grega eleútheros (ἐλεύθερος), significa livre. Adjetivo daquilo que não está ou é sujeito a dominação alguma. Ou seja, liberdade é não coisa, não coisificante, que está ao lado do substantivo (seres, ações, objetos, sentimentos, estados), mas não é o substantivo. Que é capaz de mudar o substantivo radicalmente, mas não se torna o substantivo. Em sua raiz. O que é livre não o pode ser, pois sempre haverá algo, de qualquer substância, que possa corromper sua natureza, sua intimidade. Liberdade adjeta, jamais predica ou substantiva.

Guerras jamais são (ou serão) pela liberdade, por exemplo, pois guerras substantivam a incoerência de saciar-se do sangue alheio em prol de um modelo econômico, seja ele qual for. Matar o outro por liberdade é uma colossal falácia. Fabulação, erro grotesco. O mesmo se aplica ao amor, à paz, à nacionalidade, à individualidade, à economia etc. Nada disso tem a ver com liberdade.

Pensa-se ser livre em seu âmbito social, mas logo descobre-se preso em seu âmbito político — cidade, estado, país, continente. Mesmo o social, se analisar profundamente, percebe-se preso a protocolos, signos, línguas (aprenda quantas quiser, estará só pulando de uma gaiola para outra). Mesmo aniquilando tudo relacionado ao plano hominal, incluindo aí o aniquilador, ainda assim, descobre-se a não liberdade em corpos orgânicos restringidos a incontáveis prisões, digamos assim, metabolismos, peristaltismos, doenças, definhamento, necessidades que independem da vontade. Prisões a grosso modo.

Talvez, a liberdade adjetive-se enquanto horizonte do que convencionamos como mente. Quem sabe? Revê-se tudo aquilo que já foi apresentado e conclui-se que é mais provável que a mente, enquanto houver vida, possa apenas saborear, sentir a superfície do que pode ser a liberdade. Mas, assim como o ser, substantivo, jamais livre. Substantivando-se não se adjetiva.

Quem sabe a liberdade, como a investigo aqui, resida apenas antes do nascimento e depois da morte?

A comoção, independentemente de ser ou não ser livre, de ter ou não ter liberdade, é estar consciente do que pode vir a ser a liberdade. Justamente para não correr o risco de se comprometer-corromper com tudo aquilo que vá, justamente, contra a própria liberdade.

Se a liberdade, ou o primeiro passo rumo a, é um estado da mente. Conhecer a verdade jamais bastará para se libertar.

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