A incumbência de quem escreve literatura

Leonardo Triandopolis Vieira
2 min readDec 28, 2022

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A escrita, enquanto arte (contingenciada por um permanente estado de greve), não pode se conformar a um relacionamento vertical (e nem horizontal!) com objetos de um materialismo neoliberal desmoralizado ou com os fetiches dialéticos e torpes entre o dinheiro e o mercado, esquematizados e perpetrados por uma burguesia, por sua vez, avalizada por uma lumpemburguesia viciada em neocolonização.

A escrita literária tem a obrigação de ser o contrário de uma relação com o mercado e sua monomania pelo pragmatismo de um pseudo mundo materialista-capitalista, pois, escrever literatura é insubordinar tanto o que é subjetivo quanto o que é objetivo. Quando o mundo burguês é sintropia, a escrita deve provir da mais profunda entropia. Quando o mundo burguês é entropia, a escrita tem de provir da mais profunda sintropia.

A escrita, não nos enganemos, é uma ferramenta que foi inventada pelo opressor, cujo único propósito ainda é a restrição da liberdade e a opressão através do controle da ficção (ou mito) e a hegemonia. Apesar disso, a escrita, fundamentada em um permanente estado de greve (a escrita literária que [r]existe independente do mercado), pode e deve ser tomada para servir de arma ao oprimido, para que, através dela (e não só dela), insurja o povo de toda e qualquer opressão.

Quando a escrita literária é apropriada pela base, pelos trabalhadores, ela não transfigura o oprimido em uma espécie de novo opressor, mas o aprovisiona com a qualidade daquilo que pode libertar.

A materialidade do espírito burguês é combatida pela filosofia espiritual-empírica do trabalhador.

A foice e o martelo de quem escreve literatura deve ser o símbolo, enquanto narrativa. A incumbência de quem escreve literatura, é desaparecer enquanto escreve, até sobrar tão somente o povo e o símbolo. Símbolo a ser construído sobre algo que jamais poderá ser aprisionado ou destruído:

a ideia:

a revolução.

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Leonardo Triandopolis Vieira