A morte é bem-vinda, Gandhi e a celebração da impermanência
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Violento, egoísta, machista, narcisista e apaixonado por dinheiro. Sim, essas foram algumas características de Gandhi. Porém, segundo o próprio, até ele entrar em contato com a obra de John Ruskin (um escritor, poeta e desenhista britânico, que viveu a plenitude do sec. XIX e morreu no primeiro mês do sec. XX).
Após o contato com a obra de Ruskin, Gandhi começou a repensar toda a sua vida e mudou. Por completo, digamos assim. Tornou-se um Mahatma e, como a história nos conta, foi peça importante na independência da Índia — sem o uso de violência. Pacifista, humilde, atencioso, vegetariano, grande pensador, renegou uma vida construída em cima do conceito dinheiro. Mahatma Gandhi.
O que a vida de Gandhi pode nos ensinar é que a única constante em nossa vida é a mudança. Tudo é impermanente. Ao rotular os outros, ou a nós mesmos, estamos cometendo uma das faltas mais graves.
Criminoso, bandido, coxinha, esquerdista, machista, feminazi, pessoa de bem, ignorante, resolvido… São adjetivos que só servem para alimentar o status quo da intolerância e impedir o diálogo, o relacionamento e a (des)construção coletiva. O estereótipo, a rotulação, só existe porque o ser humano quer se sentir seguro o tempo todo. O problema é que a segurança é, talvez, uma das maiores ilusões de todas!
Se Gandhi estivesse vivo nos dias de hoje, será que ele ainda seria o mesmo, pensaria da mesma maneira?
Gandhi está morto.
E a morte, não só a de Gandhi, mas a minha, a sua, a de todos é bem-vinda! Tanto a metafórica quanto a concreta. Entropia. A morte é a única constante da vida, porque é pura transformação — impermanência! O bebê precisa morrer para viver a criança; a criança precisa morrer para viver o jovem; o jovem precisa morrer para viver o adulto; o adulto precisa morrer para viver o velho; e o velho precisa morrer para viver a Terra. Nem sempre o bebê vive o suficiente para vir a ser criança. Nem sempre o adulto vive o suficiente para vir a ser velho. Até quando a Terra viverá? Uma estrela (ou planeta) morre para viver o universo?
Nada é certo, nada é seguro.
E isso não deve nos impedir de existir e coexistir!
Talvez a insegurança nos aproxime, talvez não.
O mais importante é celebrar a impermanência.
Até a próxima transmutação.