Meu corpo nu revela o infinito
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Se a liberdade é um estado da mente, por que insistimos em ter medo na hora de nos despir? Desnudar todo corpo flácido, toda marca, toda mancha, todo pelo, todo odor, todo roxo. Toda a imoralidade de estar feliz com o que se é e não com o que se pretende ser.
Se a liberdade não está na mente, então eu não sei mais aonde ela está. Mesmo que derrubemos todos os muros, todas a grades, todas as cercas, todas as fronteiras, ainda estaremos limitados por nossa carne, nossos ossos, por esse processo de decomposição incoado desde o momento em que morremos para o ventre de nossa mãe.
Nesta vida nada nasce, tudo morre transitoriamente. A morte não é fim, talvez um veículo. Uma ponte entre o que está acontecendo e o que continua a acontecer. Paradoxo.
Olho para o espelho e vejo um corpo torto, flácido, braços e pernas queimados pelo sol. Mas quantas vezes eu olhei para o espelho! E, estou certo, em nenhuma delas meu corpo esteve igual. O rio não é só feito de água, da mesma forma que a vida não é só feita de presença. Mas, e minha mente? É o corpo ou o pensamento que muda? Tudo muda.
Se a liberdade é um estado da mente, por que estamos tão insatisfeitos?
A homofonia é clara: a mente mente. Mas só a mente condicionada a crer que é nada mais do que algo transitório. Quando na realidade é uma grande compositora de infinitos.
Meu corpo nu é o infinito sorrindo para mim.
Nossos corpos nus são o nanquim da matéria escura que, sem fim, delineia o rosto do segredo de todos os segredos.
Ser livre é padecer em um infinito fim.